domingo, 28 de março de 2010

Reflexões em "Entre a mi pago sin golpear"


Abro neste blog, que se propõe desde seu surgimento a discutir os temas do direito e para além direito, um novo espaço dedicado à Cultura, dimensão na qual se dá a experiência jurídica; e à reflexão moral, Moral sem observância da qual não há Direito.

Vale dizer que este aspecto de "para além do direito" esteve certamente negligenciado por este autor nos últimos tempos, seja pela exiguidade do tempo - a mais implacável das variáveis; seja pela avalanche diária de reformas legais, a quais aparentemente ampliam-se e forçosamente nos atraem , para além do habitual, conforme demonstram as proposições de um novo Código de Processo Penal e um novo Código de Processo Civil.

Feitas as justificações. Sigamos adiante.


Trago aos amigos e amigas preciosa composição musical, "Entre a mi pago sin
golpear", a qual traduz a consciência moral de um povo caracterizado pelo culto à Terra ('pago'), à honra e às tradições.

A menção ao chimarrão ('mate cebado') enquanto elemento cultural símbolo da comunhão do Homem com a sua Terra e com seus semelhantes numa relação de iguais, não deixa dúvidas acerca da identidade deste povo e de seus valores. Eis o gaúcho, ser humano com tradições e modo de ser próprios, autor e personagem o qual habita porções de terra no Brasil, Argentina e Uruguai, transcendendo as fronteiras nacionais, pelo que podemos interpretá-lo como verdadeira expressão da identidade comum do homem platino.

Honra, destemor, justiça, igualdade, liberdade, lealdade e amor ao povo e à terra são notas da expressão moral de nossa gente. Virtudes as quais certamente não fazem destes homens e mulheres do Sul melhores ou piores que quaisquer outros, e possivelmente sequer sejam observadas por todos os nascidos nessas terras, mas que induvidosamente dão à cada um, uma identidade própria e uma identidade comum. Identidades coletivas, portos seguros dos indivíduos em todos os tempos, as quais restam profundamente abaladas pelo modelo social pós-moderno mas que por aqui sobrevivem a duras penas.

Fica o desabafo, e a crítica aos tempos da liquidez dos valores, das relações descartáveis, do desprezo do ser humano por si e seus semelhantes.

Reforça-se, no entanto, a chama da imortal esperança!

Segue a letra desta bela música do folclore argentino.



ENTRE A MI PAGO SIN GOLPEAR
Soledad Pastorutti

Fue mucho mi penar
Andando lejos del pago,
Tanto correr
Pa' llegar a ningún lado.
Estaba donde nací
Lo que buscaba por ahí.

Es oro la amistad
Que no se compra ni vende,
Sólo se da
Cuando en el pecho se siente.
No es algo que se ha de usar
Cuando te sirva y nada más.
Así es como se dan
En la amistad mis paisanos,
Sus manos son
Pan cacho y mate cebado.
Y la flor de la humildad
Suele su rancho perfumar.
(grifei)

La vida me han prestado
Y tengo que devolverla,
Cuando el creador
Me llame para la entrega.
Que mis huesos, piel y sal
Abonen mi suelo natal.
La luna es un terrón
Que alumbra con luz prestada,
Solo al cantor
Que canta coplas del alma,
Le estalla en el corazón
El sol que trepa por su voz.

Cantor para cantar
Si nada dicen tus versos,
Ay! ¿para qué
Vas a callar al silencio?
Si es el silencio un cantor
Lleno de duendes en la voz.

Mi pueblo es un cantor
Que canta la chacarera,
No ha de cantar
Lo que muy dentro no sienta.
Cuando lo quiera escuchar
Entre a mi pago sin golpear.

Assista no YouTube: "Entre a mi pago sin golpear" na interpretação de Soledad Pastorutti

2 comentários:

  1. Grande musica, ótima reflexão.
    Com certeza o gaúcho é tudo aquilo que tu falaste, a base é essa. Espero mais posts não-jurídicos para que eu possa comentar (e entender algo).
    Abraço!

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  2. Linda letra. Ritmo da chacarera é maravilhoso Mas , creio que a letra é a interpretação da religiosidade -católica , do povo Argentino. Cita a ligação do homem com a natureza da criação e o término da vida material , agradecido pela vida que teve.

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