Recentemente, o Delegado Geral de Polícia divulgou os dados da atividade da Polícia Civil do RS no primeiro semestre de 2011, nesse período no estado foram registradas 375 mil e 685 ocorrências, elaborados 13 mil e 64 flagrantes, instaurados 93 mil e 273 inquéritos, e remetidos 106 mil e 665 inquéritos ao Poder Judiciário.
A ação da polícia é respeitável, mas sabidamente o número de crimes que realmente ocorre é bastante superior àqueles que chegam ao conhecimento das autoridades, trata-se da chamada “cifra negra” da criminalidade. Porém há algo mais próximo dos sentidos de cada um de nós que estatísticas, trata-se do sentimento de insegurança instaurado no cotidiano.
Ora, a sensação de insegurança entre os cidadãos é perceptível aos nossos sentidos. A refletir sobre tal sentimento atentei-me para uma circunstância banal de nosso dia-a-dia. Recordei-me dos tempos de minha infância, meados dos anos 90, quando a regra era as portas das casas permanecerem destrancadas, às vezes até mesmo no período noturno. Com o passar dos tempos, e em algum momento, as coisas se modificaram, as portas passaram a ficar sempre trancadas após o pôr-do-sol.
Em algum instante, o qual não sei precisar, as portas das residências passaram a ficar trancadas como regra, inclusive durante o dia. Hoje, ao sair de casa deparei-me com a circunstância de a porta de minha casa não ter maçaneta para o lado de fora, somente podendo ser aberta pelo lado externo com a chave, independentemente de estar trancada. De repente, percebi que as portas externas de quase todas as residências que conheço também são assim, possuindo tão somente maçanetas decorativas do lado externo das portas de acesso.
Ou seja, do tempo em que as portas ficavam destrancadas como regra, passamos por uma época na qual a regra era trancar as portas noite e dia, porém com a necessidade de nossa determinação em trancá-las; e hoje, vivemos em uma era na qual as portas de nossas casas permanecem “trancadas” para aqueles que estão do lado de fora, o tempo todo, independentemente de nossa ação de “chaveá-las”. Eis a “era da insegurança”.
Obviamente o “fenômeno das portas trancadas” constitui um aspecto minúsculo de nossa realidade cotidiana, no entanto, me parece ser emblemático do crescente e generalizado sentimento de insegurança instaurado entre nós.
Eis a reflexão que compartilho com os amigos e amigas.